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18 de agosto de 2011

Crítica: “As crônicas de gelo e fogo”

Uma fantasia para adultos
Por: Edilton Nunes


Frases do tipo: "é a mais importante obra de fantasia desde que Bilbo encontrou o anel" (SF Rewviews) ou "De um dos maiores mestres da fantasia surgem um épico magistral, poderoso como você jamais viu..." enfeitam a contra-capa de "A Guerra dos tronos", o primeiro dos três volumes já publicados no Brasil de "As crônicas de Gelo e Fogo", premiada série de livros do autor norte-americano George R. R. Martin. Exageros a parte (ou não) a verdade é que "Guerra dos tronos" é uma obra grandiosa a seu modo, e que carrega em si uma grande parcela de fantasia, mesclada à verossimilhança da visão que temos da idade média, com seus cavaleiros de armaduras esplendorosas, cortesãs de vestidos longos e decotes curtos, reis bondosos (e aqui também se incluem os malvados, ingênuos, loucos, inescrupulosos...), príncipes, princesas, bastardos, nobres e plebeus. Martin criou uma atmosfera que, apesar de possuir sua parcela de misticismo, mantém boa parte dos seus alicerces concretados a um mundo bem mais "realista", e só isso já o difere e muito da obra de Tolkien (o que, é claro, não significa necessariamente que seja melhor ou pior). Em "A guerra dos tronos" você não irá se deparar com elfos, trolls, magos ou hobitts passeando por ai em um universo fictício, enquanto o senhor dos anéis reúne seu exercito das sombras e marcha para a dominação da Terra-Média. Ao invés disso, você irá se familiarizar com um rei louco que ordenou que ateassem fogo a própria cidade, ao se ver diante da derrota iminente, ou com o filho bastardo de um rei, que tem de enfrentar as diferenças sociais impostas pelo fato de não ser filho legitimo, mesmo se portando e tendo o coração nato de um. Traição, pilhagens, batalhas sangrentas, sexo, incesto e uma boa dose de morte são ingredientes quase que obrigatórios nas páginas do romance de Martin.



A historia

A historia se passa em um continente fictício chamado "Westeros", onde as estações são extremamente imprevisíveis e podem ser curtas, não passando de alguns meses, ou mesmo longas, culminando em décadas e mais décadas de um verão agradável ou de um inverno sufocante. Sua capital e sede principal do poder é Porto Real, uma cidade a sudoeste de Westeros. Porém, não é em Porto Real que residem os "personagens principais" da historia, mas sim em Winterffell, terra gelada do norte, onde reina o senhor Eddard Stark. 

Lord Eddard (Ned) Stark, rei e senhor de Winterffell, é o patriarca de uma das sete casas dos nobres de Westeros e guardião do Norte. Ned é o típico rei que estamos acostumados a ver em historias fantásticas. Pai protetor, sempre mantendo uma ligação afetiva muito forte com seus seis filhos e com sua esposa, Catelyn Stark, justo e leal, além de muito habilidoso com a espada. Foi Ned que esteve lado a lado de Robert, o Rei dos sete reinos, na revoltosa conquista de Porto Real em uma batalha sangrenta que depôs o rei louco Aerys Targaryen.

Jon Snow é o filho bastarde de Eddard, cuja mãe não se tem noticia, já que Ned insiste em manter a identidade dela em segredo. Apesar de não carregar o sobrenome dos Starks, Jon possui todas as características que fizeram do pai o senhor de Westeros, e representa muito melhor do que os seus cinco outros irmãos os ideais autruistas do pai Stark.

Se em uma ponta desse perigoso jogo de poderes estão os Starks, na outra estão os Lannisters, que tem como representante máxima Cersei Lanyster, esposa de Robert Baratheon e rainha dos sete reinos. Cersei se casou com Robert após a rebelião que o levou ao trono e aproveitou-se de seu posto privilegiado para elevar ainda mais o status dos lannisters. Cersei mantém um relacionamento incestuoso com seu irmão Jaime Lannister desde quando era pequena, relacionamento esse que resultou em seus três filhos, Joffrey, Myrcela e Tommen.


Um dos personagens mais cativantes da série também é um Lannister. Seu nome é Tyrion (também conhecido como "o Duende"). Tyrion é o terceiro filho de Tywin Lannister e irmão de Cersei e Jamie. Apesar de ser provido de uma inteligência fora do comum e rapidez de raciocínio (lê-se "esperteza") extremamente aguçados, além de um senso de humor arrojado inversamente proporcional ao seu tamanho, não recebe o devido reconhecimento de sua família pelo fato de ter nascido anão. Seu pai também o culpa pela morte de sua esposa durante o parto. Viver, de certa forma, a margem da família, fez com que Tyrion acabasse por desenvolver outros mecanismos de defesa intelectuais que ajudaram a transforma-lo em um dos personagens mais querido pelos fãs da série. Com o tempo, Tyrion acaba desenvolvendo uma improvável amizade com o bastardo Jon Snow.


A muralha

Ao norte, nos limites gelados de Westeros, existe uma enorme parede de gelo, conhecida como "a muralha". A muralha mede mais de 200 metros de altura e se estende por quase todo o território. É guarnecida pelos patrulheiros da noite (da qual faz parte Jon Snow), proscritos que juraram proteger o sul dos perigos que estão além da muralha, nos confins da inexplorada floresta negra.

Personagens complexos

Martin, um experiente roteirista (vide: “A Bela e a Fera” e “Além da Imaginação”, ambos seriados dos anos 80), utilizou-se de uma técnica interessante para fazer a divisão dos capítulos do livro. Cada um deles, apesar de possuir um narrador onisciente, é contado tendo como base o ponto de vista de um personagem diferente (oito deles, no total), cujo nome do capitulo faz referencia. Além disso os personagens criados por Martin são complexos e independentes, verossímeis do ponto de vista histórico e pessoal, nos costumes (na maneira subserviente como as mulheres se portam, por exemplo). Diferente dos personagens de Tolkien (e aqui tomo a liberdade de mais uma vez fazer uma comparação superficial de ambas as obras), os personagens de Martin não são planos. Possuem densidade psicológica e padecem de duvidas e incertezas. Eles traem, conspiram e matam. Isso torna a obra mais atraente, pois a desvincula do tipico conto de fadas fantástico, onde os personagens possuem papeis bem definidos, quando o mocinho é sempre bom e o bandido é sempre mal.

O futuro da série

Originalmente Martin projetou uma série com sete livros, sendo que 5 deles já foram publicados até agora, 3 deles no brasil: a guerra dos tronos, a fúria dos reis e a tormenta das espadas. Lá fora foram publicados também A Feast for Crows e A Dance with Dragons (respectivamente: um banquete para corvos e uma dança com dragões, em tradução livre). Além disso, foi confirmada a segunda temporada do seriado produzido pela HBO para meados de 2012, e que, ao que tudo indica, englobará os eventos do segundo livro da série.


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