Abertos pela primeira vez em Londres, em alguma data próxima de 27 de fevereiro de 1932, os impossíveis olhos violeta de Elizabeth Taylor se fecharam definitivamente em Los Angeles, no dia 23 de março de 2011. Mais um pedaço da Velha Hollywood, da glamorosa Hollywood, da Hollywood dos anos de ouro, partiu. Teremos que nos desacostumar de pensarmos em Liz Taylor como um mito vivo.
O título de um de seus principais filmes é “Giant” (1956). Foi exatamente isso que ela se tornou para o mundo do cinema: uma gigante de oficiais 1,57 de altura e personalidade colossal, para o bem e para o mal. É difícil encontrar uma atriz contemporânea que possa lhe ser comparável em prestígio. Elizabeth Taylor, apontada como uma das mulheres mais lindas do século XX, conseguiu a proeza de unir em proporções semelhantes carisma, beleza e inegável talento. Bela como Ava Gardner e talentosa como Katharine Hepburn, ganhava tão bem ou mais que os maiores astros masculinos da época. Diferente de outras musas de sua geração, sem precisar platinar os cabelos, não foi apenas uma estrela, mas uma verdadeira atriz. Indicada quatro vezes ao Oscar, foi premiada em duas ocasiões: em 1960 por “Disque Butterfield 8” e em 1966 por “Quem têm medo de Virginia Woolf?”.
"Giant" (1956)
Iniciando a carreira como coadjuvante da cadela Lassie, Elizabeth Taylor tornou-se posteriormente a mais célebre Cleópatra, a mais deslumbrante Helena de Tróia, a definitiva Megera Domada e a dona da voz da pequena Maggie Simpson. Na vida pessoal, foi musa inspiradora de Michael Jackson, que lhe dedicou a canção “Liberian Girl”, e pioneira entre as celebridades que se dedicam a ações filantrópicas. Uma trajetória de vida que só não foi glorioso porque estendeu-se demais, tropeçando em doenças, casamentos infelizes, personagens pífios, drogas e álcool. Cronologicamente, morreu jovem para os atuais padrões, apenas 79 anos; artisticamente era uma múmia. Assim como seu personagem em “Giant”, Leslie Lynnton Benedict, Elizabeth Taylor viveu o suficiente para ver seu mundo de cristal desabar, tornar-se decadente.
Da mesma forma que seu amigo Michael Jackson, teve dificuldades em lidar com a meia idade e o outono criativo. Optou por não se isolar, como Greta Garbo, não aceitar a inexorável passagem do tempo, como Brigite Bardot, e não retroalimentar-se da própria mitologia, como Lauren Bacall. Insistiu em permanecer sob os holofotes como fosse possível, como se ainda tivesse uma carreira. Acabou se tornando cada vez menos reconhecível e respeitável para aqueles que viram seu auge e cada vez mais irrelevante para as novas gerações. Tornou-se, literalmente, uma peça de museu, chamada para enfeitar produções menores. Ironicamente, seu último papel com um pouco mais de visibilidade foi como a megera indomada sogra de Fred Flintstone, na adaptação cinematográfica de 1994 do célebre desenho animado. Histriônica, canastrona e deselegante na tela, Liz Taylor em nada lembrava a grande dama das artes que poderia ser. Parecia uma atriz amadora da época das cavernas.
Passou a circular uma piada cruel: muitas vovós, que na adolescência sonharam em ser como Elizabeth Taylor, finalmente conseguiram. Mas essas vovós jamais precisaram lidar com o peso da própria glória. A Elizabeth Taylor da eternidade viveu entre as décadas de 1950 e 1970. Nos filmes dessa época seus impossíveis olhos violeta continuarão brilhando pelos séculos dos séculos. O resto será esquecido. Afinal, é conveniente lembrar que o título brasileiro de “Giant” é “Assim Caminha a Humanidade”. Isso mesmo. Caminha na companhia dos eternamente jovens James Dean, Rock Hudson e Liz Taylor.
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Ademir Luiz é Doutor em História e professor da UEG
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